Parkinson – Pesquisas com canabinoides

O mal de Parkinson é uma doença progressiva do sistema nervoso que afeta quase 4 milhões de pessoas no mundo todo e cerca de 200 mil só no Brasil. Estudos têm demonstrado que a canabis pode diminuir a velocidade de progressão da doença e ajudar os pacientes a controlar os sintomas associados.

Visão Geral do mal de Parkinson

O Parkinson é uma doença neurodegenerativa crônica que causa o mau funcionamento e eventual morte de neurônios no cérebro. A condição geralmente começa com pequenos tremores e gradualmente se desenvolve, causando eventual rigidez muscular e diminuição da velocidade dos movimentos. Alguns neurônios produzem dopamina, um composto químico que envia mensagens à parte do cérebro que controla os movimentos. Assim, conforme os neurônios morrem, a quantidade de dopamina diminui afetando o controle motor.

Embora a causa do Parkinson permaneça desconhecida, a genética e fatores ambientais provavelmente desempenham um papel no desenvolvimento da doença. Mutações genéticas específicas foram identificadas em pacientes e ter um parente próximo com Parkinson aumenta as chances de se desenvolver a doença. A exposição a toxinas como pesticidas e herbicidas também pode aumentar o risco.

Os sintomas associados ao mal de Parkinson incluem tremores, bradicinesia (lentidão de movimentos), rigidez muscular e instabilidade postural. Os tremores podem ocorrer nas mãos, braços, pernas, mandíbula e rosto. É comum o Parkinson vir acompanhado de depressão, problemas cognitivos, de deglutição, sono, fadiga e dores. Também é possível ocorrer casos paralelos de psicose, um prejuízo sério das faculdades mentais e emocionais que causam a perda de contato com a realidade.

Não há cura para a doença. No entanto, tratamentos podem ajudar a aliviar os sintomas. Medicamentos podem ser usados para ajudar com os movimentos, locomoção e tremores, aumentando os níveis de dopamina. Em alguns casos uma cirurgia pode vir a ser necessária para regular certas regiões do cérebro.

Efeitos da canabis no Parkinson

Evidências sugerem que a canabis tem o potencial de desacelerar a progressão da doença ao oferecer efeitos neuroprotetores. Os canabinoides encontrados na canabis são capazes de suprimir a excitotoxicidade, a ativação glial e o dano oxidativo que causa a degeneração dos neurônios liberadores de dopamina. Além disso, eles melhoram a função mitocondrial da célula e ativação da remoção de detritos celulares, encorajando a saúde neuronal 6, 7, 9, 16. Pesquisadores descobriram evidências de que um canabinoide específico encontrado na canabis, o THC (tetraidrocanabinol), ajuda no tratamento do mal de Parkinson ao auxiliar na prevenção de danos causados por radicais livres e ativando um receptor que estimula a formação de novas mitocôndrias 16.

Outro canabinoide importante encontrado na canabis, o CBD (canabidiol), também tem demonstrado dar suporte à mitocôndria em neurônios, fazendo com que pesquisadores concluam que o CBD deveria ser considerado uma possível opção terapêutica para doenças neurodegenerativas, como o Parkinson, devido a suas propriedades neuroprotetoras 3, 4.

Estudos também demonstraram que os canabinoides interagem com os receptores CB1 e CB2 do sistema endocanabinoide para modular a liberação de dopamina 12. Pesquisas também mostram que a canabis pode ajudar pacientes com Parkinson a controlar seus sintomas. Um estudo observou que após fumar canabis, pacientes com mal de Parkinson observaram melhorias significativas no controle motor, tremores, rigidez, bradicinesia, sono e dores 8. Outros estudos confirmaram que a canabis tem a habilidade de reduzir a bradicinesia e tremores 6, 7. Mais recentemente, um estudo clínico descobriu que a canabis reduz significativamente as dores e sintomas motores de pacientes com Parkinson, 30 minutos após a administração 11.

Foram observadas melhorias significativas no bem-estar e qualidade de vida de pacientes com Parkinson que receberam doses diárias de CBD por uma semana 1. Um estudo de caso descobriu que pacientes tratados com CBD – embora não tenham percebido melhorias significativas no controle motor ou outros sintomas – apresentaram uma redução substancial e imediata dos eventos relacionados a distúrbios comportamentais do sono REM 1.

Em uma pesquisa, apesar de apenas 4.3% dos pacientes terem respondido que utilizavam canabis para tratar seus sintomas, o uso da planta figurou como uma opção de tratamento mais eficaz que vitaminas, massagem, arteterapia, musicoterapia e relaxamento 5. Um questionário anônimo enviado a pacientes com mal de Parkinson descobriu que 25% dos 339 entrevistados haviam consumido canabis, com 45,9% deles relatando algum tipo de benefício 14.

Além disso, o CBD pode ajudar pacientes com mal de Parkinson que apresentam psicose. Quatro semanas de uso do canabidiol fez com que experimentassem uma diminuição importante dos sintomas psicóticos, conforme avaliado pela Escala Breve de Avaliação Psiquiátrica (BPRS) e a Avaliação de Sintomas Psicóticos de Pacientes com Parkinson 17.

Estudos recentes sobre a canabis no mal de Parkinson

Referência:

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