Mal de Huntington – Pesquisas com canabinoides

O mal de Huntington é uma desordem genética fatal onde os gânglios da base do cérebro se deterioram progressivamente. Estudos têm demonstrado que a canabis oferece efeitos neuroprotetores que retardam a evolução da doença.

Visão geral do mal de Huntington

A doença hereditária, também chamada de coreia de Huntington, causa problemas psiquiátricos e afeta os movimentos e habilidades cognitivas. Um indivíduo apresenta 50% de chance de desenvolver a desordem caso um de seus pais tenha a doença, de acordo com o Instituto Nacional de Doenças Neurológicas e AVC. No entanto, os sintomas mais comuns não aparecem antes da meia-idade.

Alguns dos sintomas relacionados a movimentos tipicamente começam com problemas de equilíbrio, descontrole motor e falta de destreza. Os pacientes podem experimentar distonia, movimentos bruscos involuntários, postura e caminhar debilitados. Eventualmente a doença pode fazer com que o paciente perca a habilidade de andar, falar e engolir. Os danos cognitivos mais comuns incluem dificuldade de organização, priorizar e focar em tarefas específicas, uma tendência de ficar preso em um pensamento ou atividade, dificuldade de aprendizado e falta de controle de impulsos. O problema psiquiátrico mais comum causado pelo mal de Huntington é a depressão, além de insônia, fadiga e perda de energia, isolamento social e sentimentos de irritabilidade, tristeza e indiferença.

A saúde cognitiva, funcional e psiquiátrica deteriora após a manifestação da doença. Sua velocidade de progressão e duração variam, mas eventualmente a pessoa acaba precisando de assistência diária. Ainda não existe cura, mas alguns medicamentos podem ajudar a controlar os sintomas. Além disso, fisioterapia, fonoaudiologia, terapia ocupacional e psicoterapia podem ajudar os pacientes com problemas comportamentais, psiquiátricos e com a movimentação em geral.

Efeitos da canabis no mal de Huntington

Pesquisas têm demonstrado que a canabis ajuda a diminuir a velocidade de progressão da doença através de sua interação com o sistema endocanabinoide. Após alguns estudos terem determinado que o mal de Huntington está relacionado à perda de receptores canabinoides nos núcleos da base, pesquisadores resolveram examinar se o aumento da atividade endocanabinoide poderia ser benéfico para o tratamento da doença 1. Os resultados têm sido encorajadores.

Em estudos pré-clínicos, foi descoberto que os principais canabinoides encontrados na canabis, o THC (tetraidrocanabinol) e o CBD (canabidiol), são eficazes na proteção dos neurônios no cérebro. Pesquisas mostram que a ativação dos receptores canabinoides CB2 reduz a inflamação e toxicidade de células microgliais, o que diminui a neurodegeneração causada pelo mal de Huntington 3,4,10. Através da ativação dos receptores CB1 os canabinoides têm demonstrado aliviar sintomas motores específicos como tremores e problemas de locomoção, além de limitar o processo pelo qual neurônios são destruídos retardando a progressão da doença 1,2,12.

Além disso, estudos examinando o efeito de medicamentos à base de canabis no mal de Huntington provaram que os canabinoides são eficazes no retardo da progressão da doença 7,11,13,14,15.

Pesquisadores concluíram que modular o sistema endocanabinoide com derivados da canabis oferece um potencial terapêutico para o tratamento de doenças que afetam os núcleos da base, como o mal de Parkinson e Huntington 2. Os canabinoides são eficazes na neuroproteção através das três seguintes formas: reduzindo a inflamação ao ativar os receptores CB2, limitando a morte celular ao ativar os receptores CB1 e através dos efeitos antioxidantes independentes dos receptores canabinoides 9,11. Estudos também têm indicado que os canabinoides são eficazes na redução dos espasmos musculares e inabilidade de se concentrar através da ativação direta dos receptores vaniloides TRPV(1) 9.

Estudos recentes sobre a canabis e o mal de Huntington

  • A administração de substâncias que aumentam a atividade dos endocanabinoides causaram uma melhoria significativa dos distúrbios motores e déficits de neuroquímicos em camundongos com mal de Huntington. Alívio da hiperatividade motora e déficits de neuroquímicos pela inibição da absorção de endocanabinoides em um modelo de mal de Huntington em camundongos.
    http://onlinelibrary.wiley.com/doi/10.1002/syn.10054/pdf
  • Ativação dos receptores CB2 protegem neurônios estriatais. Agonistas dos receptores canabinoides CB2 protegem o corpus striatum da toxicidade de malonato: relevância para o mal de Huntington.
    https://www.ncbi.nlm.nih.gov/pmc/articles/PMC2706932/
  • Medicamento de canabis é eficaz como agente neuroprotetor, capaz de retardar a progressão do mal de Huntington através da ativação dos receptores CB1 e CB2. Uma combinação de fitocanabinoides, como o Sativex, funciona como neuroprotetor em ratos com lesão no malonato, um modelo inflamatório do mal de Huntington: papel dos receptores CB1 e CB2.
    https://www.ncbi.nlm.nih.gov/pmc/articles/PMC3382456/

Referência:

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