Epilepsia – Pesquisas com canabinoides

A canabis e seus compostos têm sido estudados a fundo. De fato, já foram publicadas mais de 23.000 pesquisas sobre canabinoides no tratamento de várias condições clínicas, como a epilepsia. Este artigo é o primeiro de uma série que iremos postar em nossa página de notícias abordando as principais aplicações do canabidiol até o momento. Confira um índice de estudos em nossa página Pesquisas com Canabinoides.

Visão geral da epilepsia

A epilepsia é um problema no sistema nervoso central que pode ser relativamente benigno ou incapacitante, até mesmo fatal. Na epilepsia, a atividade neural se torna irregular, causando espasmos, convulsões, sensações estranhas e perda de consciência. A ocorrência de uma única convulsão não significa necessariamente que uma pessoa tem epilepsia. No entanto, sofrer mais de duas convulsões já é considerado base para um diagnóstico da doença.

De acordo com o Instituto Nacional de Problemas Neurológicos e AVC dos EUA, as causas possíveis da epilepsia incluem uma anormalidade na rede neural, um desequilíbrio dos neurotransmissores (compostos químicos sinalizadores), mutações em canais neurais ou qualquer combinação destes fatores. Genética, traumatismos cranianos, doenças infecciosas, danos pré-natais e problemas no desenvolvimento também podem causar a epilepsia.

Não existe cura para a doença, assim, o foco do tratamento é a redução das crises através de medicação, ajustes na dieta, dispositivos e, em alguns casos, cirurgia. É muito importante tratar a epilepsia devido o risco de se ter uma convulsão dirigindo ou nadando, por exemplo. Epilepsias graves que são caracterizadas por convulsões frequentes podem causar atraso no desenvolvimento do sistema nervoso e prejudicar a qualidade de vida da criança. Em casos raros, convulsões demasiadamente prolongadas podem ser fatais.

Descobertas: Efeitos da canabis na epilepsia

Vários estudos científicos analisando pesquisas previamente publicadas sobre os efeitos da canabis na epilepsia concluem que um dos principais canabinoides encontrados na canabis – o canabidiol (CBD) – é um tratamento terapêutico muito bem tolerado e promissor que tem demonstrado a habilidade de reduzir ou até mesmo eliminar completamente as convulsões 3,4,5,6,7,10,16,18,19,25,26. Um estudo descobriu que o CBD previne convulsões associadas ao uso de cocaína 28.  O tetrahidrocanabinol (THC) também demonstrou eficácia na redução de convulsões em crianças com epilepsia 21. Outro canabinoide encontrado na canabis, o cannabidivarin (CBDV) tem demonstrado possuir efeitos anticonvulsivos não psicoativos 1,13. Em um estudo pré-clínico, a administração da canabis ofereceu efeitos anticonvulsivos significativos em ratos e camundongos 13.

A habilidade do CBD de reduzir ou eliminar as crises convulsivas se deve a sua atuação no sistema endocanabinoide 30. O CBD interage com o receptor CB1, que por sua vez abafa a neurotransmissão e produz uma redução geral da excitabilidade neural 2,12,20,25,29,30.

Pesquisas também descobriram que a canabis é eficaz no tratamento de epilepsias pediátricas graves, como as síndromes de Dravet, de Doose e Lennox-Gastaut. Em um estudo por questionário, 84% dos pais relataram uma redução na frequência das crises de seus filhos ao tratá-los com canabis. Destes pacientes, 11% responderam que seus filhos chegaram a ponto de não mais apresentar convulsões, enquanto que 42% relataram uma redução superior a 80% na frequência das crises. Os pais relataram ainda outros efeitos benéficos, como um melhor estado de alerta, humor e sono 24.

Outra pesquisa demonstrou que a canabis com alto teor de CBD propiciou uma redução na frequência das convulsões em 85% das crianças com epilepsia, enquanto que 14% se livraram completamente das crises. As crianças também apresentaram uma melhoria no sono (53%), estado de alerta (71%) e humor (63%) durante o tratamento com CBD17. Um estudo que analisou o caso de uma menina com a doença verificou que a canabis reduziu a frequência de suas crises de 50 convulsões por dia, para 2 ou 3 crises noturnas por mês. Além disso, a criança pôde deixar de usar outras drogas anticonvulsivas que estava tomando 22. Outro estudo examinando os efeitos da canabis rica em CBD em crianças com epilepsia reportou que 89% delas apresentaram uma redução na frequência das crises. As crianças também apresentaram melhorias no comportamento e estado de alerta, linguagem, comunicação, habilidades motoras e sono 27.

Medicamentos tradicionais usados para tratar a epilepsia frequentemente causam uma série de efeitos colaterais adversos. Já os canabinoides encontrados na canabis têm demonstrado produzir efeitos anticonvulsivos em humanos em estudos preliminares e pré-clínicos e, ao mesmo tempo, causa menos efeitos adversos do que outras drogas antiepilépticas 8. Um estudo por questionário demonstrou que os pais haviam experimentado em média 12 fármacos anticonvulsivos diferentes antes de encontrar na canabis uma opção branda e eficaz, já que estas drogas tradicionais são por vezes ineficazes ou apresentam efeitos colaterais inaceitáveis 24.

Estudos recentes sobre os efeitos da canabis na epilepsia

  • A canabis rica em CBD causou uma redução na frequência de convulsões em 85% das crianças, enquanto que 14% relataram eliminação completa das crises. As crianças também obtiveram melhorias no sono (53%), estado de alerta (71%) e humor (63%). A eficácia dos extratos de canabis com alto teor de canabidiol no tratamento de epilepsia pediátrica: um papel em potencial para espasmos infantis e síndrome de Lennox-Gastaut.
    (http://www.epilepsybehavior.com/article/S1525-5050(15)00157-2/fulltext)
  • O tratamento com canabis resultou na redução da frequência de convulsões em 84% das crianças, enquanto que 11% reportou eliminação total das crises. Outros benefícios incluem melhor estado de alerta, humor e sono. Relatório de uma pesquisa com pais utilizando a canabis rica em CBD em tratamentos de epilepsia pediátrica.
    (https://www.ncbi.nlm.nih.gov/pmc/articles/PMC4157067/)
  • Extratos ricos em cannabidivarin são anticonvulsivos eficazes em ratos e camundongos através de um mecanismo independente do receptor CB1.
    (http://www.ncbi.nlm.nih.gov/pubmed/23902406)

Referência:

  1. Amada, N., Yamasaki, Y., Williams, C.M., and Whalley, B.J. (2013, November 21). Cannabidivarin (CBDV) suppresses pentylenentetrazole (PTZ)-induced increases in epilepsy-related gene expression. Peer J, 1:e214; doi 10.7717/peerj.214.
    https://www.ncbi.nlm.nih.gov/pmc/articles/PMC3840466/.
  2. Blair, R.E., Deshpande, L.S., Sombati, S., Falenski, K.W., Martin, B.R., and DeLorenzo, R.J. (2006, June). Activation of the cannabinoid type-1 receptor mediates the anticonvulsant properties of cannabinoids in the hippocampal neuronal culture models of acquired epilepsy and status epilepticus. The Journal of Pharmacology and Experimental Therapeutics, 317(3), 1072-1078.
    http://jpet.aspetjournals.org/content/317/3/1072.long.
  3. Blair, R.E., Deshpande, L.S., and DeLorenzo, R.J. (2015, September). Cannabinoids: is there a potential treatment role in epilepsy? Expert Opinion on Pharmacology, 16(13), 1911-4.
    https://www.ncbi.nlm.nih.gov/pmc/articles/PMC4845642/.
  4. Cilio, M.R., Thiele, E.A., and Devinsky, O. (2014, June). The case for assessing cannabidiol in epilepsy. Epilepsia, 55(6), 787-90.
    http://onlinelibrary.wiley.com/doi/10.1111/epi.12635/full.
  5. Cunha, J.M., Carlini, E.A., Pereira, A.E., Ramos, O.L., Pimentel, C., Gagliardi, R., Sanvito, W.L., Lander, N., and Mechoulam, R. (1980). Chronic administration of cannabidiol to healthy volunteers and epileptic patients. Pharmacology, 21(3), 175-85.
    https://goo.gl/JKQU41.
  6. Detyniecki, K., and Hirsch, L. (2015, October). Marijuana use in epilepsy: The myth and the reality. Current Neurology and Neuroscience Reports, 15(10), 65.
    http://link.springer.com/article/10.1007%2Fs11910-015-0586-5.
  7. Devinsky, O., Cilio, M.R., Cross, H., Fernandez-Ruiz, J., French, J., Hill, C., Katz, R., Di Marzo, V., Jutras-Aswad, D., Notcutt, W.G., Martinez-Orgado, J., Robson, P.J., Rohrback, B.G., Thiele, E., Whalley, B., and Friedman, D. (2014, June). Cannabidiol: pharmacology and potential therapeutic role in epilepsy and other neuropsychiatric disorders. Epilepsia, 55(6), 791-802.
    https://www.ncbi.nlm.nih.gov/pmc/articles/PMC4707667/.
  8. dos Santos, R.G., Hallak, J.E., Leite, J.P., Zuardi, A.W., and Crippa, J.A. (2015, April). Phytocannabinoids and epilepsy. Journal of Clinical Pharmacology and Therapeutics, 40(2), 135-43.
    http://onlinelibrary.wiley.com/doi/10.1111/jcpt.12235/full.
  9. Epilepsy (2014, November 22). Mayo Clinic.
    http://www.mayoclinic.org/diseases-conditions/epilepsy/home/ovc-20117206.
  10. Filloux, F. M. (2015). Cannabinoids for pediatric epilepsy? Up in smoke or real science? Translational Pediatrics, 4(4), 271–282.
    https://www.ncbi.nlm.nih.gov/pmc/articles/PMC4729003/.
  11. Friedman, D., and Devinsky, O. (2015, September 10). Cannabinoids in the Treatment of Epilepsy. The New England Journal of Medicine, 373(11), 1048-58.
    http://www.nejm.org/doi/full/10.1056/NEJMra1407304.
  12. Hill, T.D., Cascio, M.G., Romano, B., Duncan, M., Pertwee, R.G., Williams, C.M., Whalley, B.J., and Hill, A.J. (2013, October). Cannabidivarin-rich cannabis extracts are anticonvulsant in mouse and rat via a CB1 receptor-independent mechanism. British Journal of Pharmacology, 170(3), 679-92.
    https://www.ncbi.nlm.nih.gov/pmc/articles/PMC3792005/.
  13. Hill, A., Mercier, M., Hill, T., Glyn, S., Jones, N., Yamasaki, Y., Futamura, T., Duncan, M., Stott, C.G., Stephens, G.J., Williams, C.M., and Whalley, B. (2012). Cannabidivarin is anticonvulsant in mouse and rat. British Journal of Pharmacology, 167(8), 1629–1642.
    https://www.ncbi.nlm.nih.gov/pmc/articles/PMC3525866/.
  14. Hill, A.J., Williams, C.M., Whalley, B.J., and Stephens, G.J. (2012, January). Phytocannabinoids as novel therapeutic agents in CNS disorders. Pharmacology & Therapeutics, 133(1), 79-97.
    http://www.sciencedirect.com/science/article/pii/S016372581100180X.
  15. Hoffman, M.E., and Frazier, C.J. (2013, June). Marijuana, endocannabinoids, and epilepsy: potential and challenges for improved therapeutic intervention. Experimental Neurology, 244, 43-50.
    https://www.ncbi.nlm.nih.gov/pmc/articles/PMC3332149/.
  16. Hosseinzadeh, M., Nikseresht, S., Khodagholi, F., Naderi, N., and Maghsoudi, N. (2016, April). Cannabidiol Post-Treatment Alleviates Rat Epileptic-Related Behaviors and Activates Hippocampal Cell Autophagy Pathway Along with Antioxidant Defense in Chronic Phase of Pilocarpine-Induced Seizure. Journal of Molecular Neuroscience, 58(4), 432-40.
    http://link.springer.com/article/10.1007%2Fs12031-015-0703-6.
  17. Hussain, S.A., Zhou, R., Jacobson, C., Weng, J., Cheng, E., Lay, J., Hung, P., Lerner, J.T., and Sankar, R. (2015, June). Perceived efficacy of cannabidiol-enriched cannabis extracts for treatment of pediatric epilepsy: A potential role for infantile spasms and Lennox-Gastaut syndrome. Epilepsy & Behavior, 47, 138-41.
    http://www.epilepsybehavior.com/article/S1525-5050(15)00157-2/fulltext.
  18. Jones, N. A., Hill, A. J., Smith, I., Bevan, S. A., Williams, C. M., Whalley, B. J., and Stephens, G. J. (2010). Cannabidiol Displays Antiepileptiform and Antiseizure Properties In Vitro and In Vivo. The Journal of Pharmacology and Experimental Therapeutics, 332(2), 569–577.
    http://doi.org/10.1124/jpet.109.159145.
  19. Jones, N.A., Glyn, S.E., Akiyama, S., Hill, T.D., Hill, A.J., Weston, S.E., Burnett, M.D., Yamasaki, Y, Stephens, G.J., Whalley, B.J., and Williams, C.M. (2012, June). Cannabidiol exerts anti-convulsant effects in animal models of temporal lobe and partial seizures. Seizure, 21(5), 344-52.
    http://www.seizure-journal.com/article/S1059-1311(12)00057-X/fulltext.
  20. Karlócai, M. R., Tóth, K., Watanabe, M., Ledent, C., Juhász, G., Freund, T. F., & Maglóczky, Z. (2011). Redistribution of CB1 Cannabinoid Receptors in the Acute and Chronic Phases of Pilocarpine-Induced Epilepsy. PLoS ONE, 6(11), e27196.
    https://www.ncbi.nlm.nih.gov/pmc/articles/PMC3208595/.
  21. Lorenz, R. (2004, February-April). On the application of cannabis in paediatrics and epileptology. Neuroendocrinology Letters, 25(1-2), 40-4.
    http://www.nel.edu/pdf_/25_12/NEL251204A02_Lorenz_.pdf.
  22. Maa, E., and Figi, P. (2014, June). The case for medical marijuana in epilepsy. Epilepsia, 55(6), 783-6.
    http://onlinelibrary.wiley.com/doi/10.1111/epi.12610/full.
  23. NINDS Epilepsy Information Page. (2015, July 17). National Institute of Neurological Disorders and Stroke.
    http://www.ninds.nih.gov/disorders/epilepsy/epilepsy.htm.
  24. Porter, B.E., and Jacobson, C. (2013, December). Report of a parent survey of cannabidiol-enriched cannabis use in pediatric treatment-resistant epilepsy. Epilepsy & Behavior, 29(3), 574-7.
    https://www.ncbi.nlm.nih.gov/pmc/articles/PMC4157067/.
  25. Rosenberg, E.C., Tsien, R.W., Whalley, B.J., and Devinsky, O. (2015, August 18). Cannabinoids and Epilepsy. Neurotherapeutics, Epub ahead of print.
    https://www.ncbi.nlm.nih.gov/pmc/articles/PMC4604191/.
  26. Szaflarski, J.P., and Bebin, E.M. (2014, December). Cannabis, cannabidiol, and epilepsy–from receptors to clinical response. Epilepsy & Behavior, 41, 277-82.
    http://www.epilepsybehavior.com/article/S1525-5050(14)00413-2/fulltext.
  27. Tzadok, M., Uliel-Siboni, S., Linder, I., Kramer, U., Epstein, O., Menascu, S., Nissenkorn, A., Yosef, O.B., Hyman, E., Granot, D., Dor, M., Lerman-Sagie, T., and Ben-Zeev, B. (2016, February). CBD-enriched medical cannabis for intractable pediatric epilepsy: The current Israeli experience. Seizure, 35, 41-4.
    http://www.seizure-journal.com/article/S1059-1311(16)00005-4/fulltext.
  28. Vilela, L.R., Gomides, L.F., David, B.A., Antunes, M.M., Diniz, A.B., Moreira, F.D., and Menezes, G.B. (2015). Cannabidiol rescues acute hepatic toxicity and seizure induced by cocaine. Mediators of Inflammation, Article ID 523418, 12 pages.
    https://www.hindawi.com/journals/mi/2015/523418/.
  29. Wallace, M.J., Wiley, J.L., Martin, B.R., and DeLorenzo, R.J. (2001, September 28). Assessment of the role of CB1 receptors in cannabinoid anticonvulsant effects. European Journal of Pharmacology, 428(1), 51-7.
    http://www.sciencedirect.com/science/article/pii/S0014299901012432.
  30. Wallace, M.J., Martin, B.R., and DeLorenzo, R.J. (2002). Evidence for a physiological role of endocannabinoids in the modulation of seizure threshold and severity. European Journal of Pharmacology, 452(3), 295-301.
    http://www.sciencedirect.com/science/article/pii/S0014299902023312.
  31. Wallace, M.J., Blair, R.E., Falenski, K.W., Martin, B.R., and DeLorenzo, R.J. (2003, October). The endogenous cannabinoid system regulates seizure frequency and duration in a model of temporal lobe epilepsy. The Journal of Pharmacology and Experimental Therapeutics, 307(1), 129-37.
    http://jpet.aspetjournals.org/content/307/1/129.long.