Enxaqueca – Pesquisas com canabinoides

A enxaqueca é um tipo de dor de cabeça caracterizada por palpitações e latejamentos em uma área isolada do cérebro 8. A dor pode ser tão intensa que chega a causar náusea, vômito e sensibilidade à luz e som 7. A Sociedade Internacional de Dores de Cabeça distingue uma enxaqueca segundo a intensidade da dor e frequência das crises (pelo menos cinco, com duração entre 4 e 72 horas, se não tratadas) 8. É comum àqueles que sofrem de enxaqueca verem auras, o que pode incluir distúrbios visuais como clarões, linhas em ziguezague ou perda parcial da visão devido à compressão do nervo óptico. Normalmente as enxaquecas surgem durante a infância, adolescência ou maioridade, sendo três vezes mais comum em mulheres do que em homens 7.

Enquanto a patofisiologia das enxaquecas ainda não é totalmente compreendida, pesquisas sugerem que elas são resultado de anormalidades neurológicas causadas por mutações genéticas no cérebro 8. Esta flutuação na atividade neural parece ativar o sistema trigeminovascular, que inclui o sistema nervoso e vascular nas meninges e a resposta inflamatória associada causa dor 8. A genética provavelmente está envolvida nas causas da enxaqueca 7.

Representação de um scotoma cintilante comum em enxaquecas

Até o momento a enxaqueca não tem cura e o foco do tratamento está na prevenção de crises e alívio dos sintomas assim que uma ocorre. Os esforços para prevenir enxaquecas incluem medicamentos, gerenciamento de estresse, atividade física, ajustes nutricionais, hidratação adequada, períodos consistentes de sono e evitar comportamentos conhecidos por desencadear crises. Quando uma enxaqueca se manifesta, o foco se torna a administração de analgésicos 7.

Descobertas: efeitos da canabis na enxaqueca

Há séculos a canabis tem sido usada no tratamento de enxaquecas. Entre os anos de 1874 e 1942, ela era um dos remédios mais usados por clínicos gerais 7,12.

Pesquisas sugerem que a eficácia da canabis no alívio da enxaqueca pode estar atribuída aos canabinoides encontrados na planta, incluindo o CBD ou canabidiol e o THC, tetraidrocanabinol. Tanto o CBD quanto o THC ativam os receptores CB1 e CB2 do sistema endocanabinoide do organismo inibindo respostas do sistema trigeminovascular e restringindo a inflamação que causa as dores da enxaqueca 1,2,5.

Um estudo de janeiro de 2016 descobriu que a maconha é eficaz na diminuição da frequência da enxaqueca. Neste estudo inédito – devido à regulamentação federal anterior – os pesquisadores descobriram que 103 de 121 participantes diagnosticados com enxaquecas observaram uma redução na frequência das crises, de uma média de 10,4 para 4,6 por mês 10.

Além disso, outros estudos sugerem que a canabis é um analgésico eficaz em condições relacionadas a dores neuropáticas crônicas resistentes a outros tratamentos para alívio de dor 3. As descobertas de um estudo sugerem até que uma disfunção no sistema endocanabinoide pode contribuir para o desenvolvimento de enxaquecas. Pesquisadores chegaram então à conclusão que a ativação dos receptores CB1 e CB2 poderia corrigir essa disfunção e ser útil no tratamento das dores da enxaqueca 6.

Independente de recomendações médicas, devido à eficácia dos canabinoides na enxaqueca, mesmo em locais onde a canabis medicinal continua sendo ilegal é muito comum o uso da planta por pacientes que sofrem da condição 7.

“A Dor de Cabeça”, de George Cruikshank (1792-1878)

Estudos recentes sobre os efeitos da canabis na enxaqueca

  • Medicamento similar à maconha fez com que ratos com enxaquecas experimentalmente induzidas experimentam menos dor do que ratos que não foram medicados. Ativação de receptores CB2 como alvo potencialmente terapêutico para a enxaqueca: avaliação em um modelo com animais.
    https://www.ncbi.nlm.nih.gov/pmc/articles/PMC3995520/

Referência:

  1. Akerman, S., Holland, P.R., Lasalandra, M.P. and Goadsby, P.J. (2013, September). Endocannabinoids in the brainstem modulate dural trigeminovascular nociceptive traffic via CB1 and “triptan” receptors: implications in migraine. Journal of Neuroscience, 33(37), 14869-77. Retrieved from
    https://www.ncbi.nlm.nih.gov/pmc/articles/PMC3771033/.
  2. Baron, E.P. (2015, June). Comprehensive Review of Medicinal Marijuana, Cannabinoids, and Therapeutic Implications in Medicine and Headache: What a Long Strange Trip It’s Been. Headache, 55(6), 885-916. Retrieved from
    http://onlinelibrary.wiley.com/wol1/doi/10.1111/head.12570/full.
  3. Boychuk, D.G., Goddard, G., Mauro, G. and Orellana, M.F. (2015, Winter). The effectiveness of cannabinoids in the management of chronic nonmalignant neuropathic pain: a systematic review. Journal of Oral & Facial Pain and Headache, 29(1), 7-14. Retrieved from
    https://goo.gl/R28LWD.
  4. Greco, R., Gasperi, V., Maccarrone, M., and Tassorelli, C. (2010, July). The endocannabinoid system and migraine. Experimental Neurology, 224(1), 85-91. Retrieved from
    http://www.sciencedirect.com/science/article/pii/S0014488610001159.
  5. Greco, R., Mangione, A.S., Sandrini, G., Nappi, G. and Tassorelli, C. (2014, March). Activation of CB2 receptors as a potential therapeutic target for migraine: evaluation in an animal model. The Journal of Headache and Pain, 15, 14. Retrieved from
    https://www.ncbi.nlm.nih.gov/pmc/articles/PMC3995520/.
  6. Greco, R., Mangione, A.S., Sandrini, G., Maccarrone, M., Nappi, G. and Tassorelli, C. (2011). Effects of anandamide in migraine: data from an animal model. The Journal of Headache and Pain, 12(2), 177-83. Retrieved from
    https://www.ncbi.nlm.nih.gov/pmc/articles/PMC3072518/.
  7. McGeeney, B.E. (2013). Cannabinoids and hallucinogens for headache. Headache, 53(3), 447-58. Retrieved from
    http://onlinelibrary.wiley.com/wol1/doi/10.1111/head.12025/full.
  8. Migraine (2013, June 4). Mayo Clinic. Retrieved from
    http://www.mayoclinic.org/diseases-conditions/migraine-headache/basics/definition/con-20026358.
  9. NINDS Migraine Information Page. (n.d.) National Institute of Neurological Disorders and Stroke. Retrieved from
    http://www.ninds.nih.gov/disorders/migraine/migraine.htm.
  10. Rhyne, D.N., Anderson, S.L., Gedde, M., and Borgelt, L.M. (2016, January 9). Effects of Medical Marijuana on Migraine Headache Frequency in an Adult Population. Pharmacotherapy, doi: 10.1002/phar.1673. Retrieved from
    http://onlinelibrary.wiley.com/wol1/doi/10.1002/phar.1673/full.
  11. Russo, E.B. (1998, May). Cannabis for migraine treatment: the once and future prescription? An historical and scientific review. Pain, 76(1-2), 3-8. Retrieved from
    http://journals.lww.com/pain/pages/articleviewer.aspx?year=1998&issue=05000&article=00002&type=abstract.
  12. Russo, E.B. (2008, February). Cannabinoids in the management of difficult to treat pain. Therapeutics and Clinical Risk Management, 4(1), 245-259. Retrieved from
    https://www.ncbi.nlm.nih.gov/pmc/articles/PMC2503660/.
  13. Russo, E.B. (2001). Hemp for Headache: An In-Depth Historical and Scientific Review of Cannabis in Migraine Treatment. Journal of Cannabis Therapeutics, 1(2), Retrieved from hemp_for_headache.pdf.
  14. Russo, E.B. (2008, April). Clinical Endocannabinoid Deficiency (CECD): Can this Concept Explain Therapeutic Benefits of Cannabis in Migraine, Fibromyalgia, Irritable Bowel Syndrome and other Treatment-Resistant Conditions. Neuroendocrinology Letters, 29(2), 192-200. Retrieved from
    http://cannabisclinicians.org/wp-content/uploads/2014/07/Russo-Clinical-endocannabinoid-deficiency.pdf.
  15. Smith, S.C., and Wagner, M.S. (2014). Clinical endocannabinoid deficiency (CECD) revisited: Can this concept explain the therapeutic benefits of cannabis in migraine, fibromyalgia, irritable bowel syndrome and other treatment-resistant conditions. Neuroendocrinology Letters, 35(3), 198-201. Retrieved from
    http://www.nel.edu/archive_issues/o/35_3/35_3_Smith_198-201.pdf