Alzheimer – Pesquisas com canabinoides

O mal de Alzheimer é um tipo progressivo de demência que afeta a memória, comportamento e raciocínio. A doença causa a degeneração e morte de neurônios, levando a um declínio contínuo da memória, intelecto e socialização. Conforme as células neuronais morrem, o cérebro encolhe.

Os cientistas acreditam que o Alzheimer é causado por uma combinação de fatores genéticos, ambientais e estilo de vida 1. A idade parece ser um fator importante, já que o risco de contrair a doença aumenta significativamente depois dos 65 anos de idade. A doença afeta cerca da metade das pessoas com mais de 85 anos 11.

Características da doença incluem placas, que são amontoados de fragmentos de proteínas chamados de beta-amiloides, e emaranhados – fibras retorcidas de proteínas tau. Estas placas e emaranhados se acumulam no cérebro e interferem na comunicação intercelular e transporte de nutrientes, contribuindo assim com a morte de neurônios.

Tipicamente o mal de Alzheimer começa com esquecimentos e confusões, mas ao longo do tempo ele progride em uma velocidade que varia de caso a caso. A perda da memória persiste e piora, fazendo com que os indivíduos afetados repitam afirmações e perguntas, esqueçam conversas, compromissos e onde deixaram seus pertences e eventualmente esqueçam os nomes de familiares, amigos e objetos de uso cotidiano. O Alzheimer também pode fazer com que a pessoa perca a noção de dia, tenha dificuldades de encontrar as palavras certas, apresente problemas de concentração e raciocínio, além de sofrer de depressão, ansiedade, afastamento social, mudanças de humor e irritabilidade.

Não existe cura para a doença ou medicação e outras estratégias de gerenciamento podem melhorar os sintomas, porém apenas temporariamente.

Descobertas: efeitos da canabis no mal de Alzheimer

Estudos revelam que dois dos principais canabinoides encontrados na canabis, o tetrahidrocanabinol (THC) e o canabidiol (CBD), reduzem o acúmulo de placas e emaranhados, demonstrando um potencial como opção de tratamento da doença. A eficácia da canabis tem sido vinculada a sua interação com o sistema endocanabinoide, o que controla vários processos patológicos associados à desordem neurodegenerativa, incluindo neuroinflamação, excitotoxicidade, disfunção mitocondrial e estresse oxidativo 3,5. Os receptores CB1 do sistema endocanabinoide têm demonstrado regular os neurotransmissores envolvidos em processos neurodegenerativos excitotóxicos, enquanto seus receptores CB2 têm demonstrado reduzir a inflamação associada ao mal de Alzheimer 4,24.

O THC tem se mostrado eficaz na redução dos níveis de beta-amiloides e melhoria da função mitocondrial, levando os pesquisadores a concluir “que o THC pode ser uma possível opção terapêutica para o Alzheimer através de múltiplas funções e caminhos” 7,9. Um estudo anterior também descobriu que o THC é eficaz na prevenção do acúmulo de beta-amiloides, indicando que poderia impactar a progressão da doença 10. Já outro mostrou que o THC reduz a atividade motora noturna e agitação em pacientes com demência, sugerindo que ele pode ser benéfico no tratamento de distúrbios comportamentais e circadianos 24.

Os cérebros de pacientes com Alzheimer sofrem de uma sobrecarga de micróglia (células que formam a mielina), o que contribui para o acúmulo excessivo de proteínas tau e eventualmente acabam emaranhados. No entanto, o CBD tem mostrado controlar a função microglial e a neuroinflamação 19. Além disso, o CBD tem melhorado a taxa de sobrevivência das células através de uma combinação de efeitos neuroprotetores, antioxidantes, anti-inflamatórios e antiapoptóticos contra a toxicidade causada por beta-amiloides, mostrando potencial como opção de tratamento do mal de Alzheimer 13. Um estudo descobriu que os efeitos neuroprotetores do CBD e sua habilidade de promover a regeneração de neurônios foi eficaz na reversão de déficits cognitivos causados pela doença 8.

Um problema na absorção de glicose foi vinculado ao agravamento de doenças neurológicas como o Alzheimer, e as descobertas de um estudo clínico com animais em 2016 sugerem que a canabis poderia promover um aumento na absorção de glicose no cérebro, sugerindo que a canabis pode ser benéfica no tratamento da doença através de uma variedade de métodos 14.

Um estudo mostrou que os danos iniciais do Alzheimer podem ser causados por um bloqueio ou deficiência de canabinoides, sugerindo que a suplementação de canabinoides poderia reduzir o risco de se desenvolver a doença 20.

Os canabinoides oferecem uma ampla abordagem no tratamento do mal de Alzheimer. Além de reduzir os níveis de beta-amiloides, gerenciar a função micróglia e aumentar a absorção de glicose, eles protegem os neurônios dos efeitos nocivos dos beta-amiloides, reduzem inflamação e auxiliam no processo de reparo do cérebro ao melhorar a neurogênese (geração de novas células) e oferecer efeitos neuroprotetores 6,11,16,17,18,21. Eles têm demonstrado melhorar a agitação psicomotora, agressividade e comunicação daqueles diagnosticados com demência 2.

Estudos recentes sobre os efeitos da canabis no mal de Alzheimer

      • Descoberto que o THC reduz os níveis de beta-amiloides e melhora a função mitocondrial, demonstrando potencial como opção de tratamento para a doença. – O potencial dos efeitos terapêuticos do THC no mal de Alzheimer.
        http://content.iospress.com/articles/journal-of-alzheimers-disease/jad140093
      • O THC previne a acumulação de beta-amiloides, o principal indicador patológico do mal de Alzheimer. – Um vínculo molecular entre o componente ativo da maconha e a patologia do mal de Alzheimer.
        https://www.ncbi.nlm.nih.gov/pmc/articles/PMC2562334/
      • O CBD oferece efeitos neuroprotetores, antioxidantes e anti-inflamatórios, promovendo a regeneração de neurônios em camundongos com Alzheimer. – Tratamento crônico com canabidiol melhora atividade social e reconhecimento de objetos em camundongos duplo transgênicos APPswe/PS1∆E9.
        http://link.springer.com/article/10.1007%2Fs00213-014-3478-5
      • Os canabinoides estimulam a remoção de beta-amiloides, bloqueiam a resposta inflamatória e oferecem efeitos neuroprotetores. – A proteotoxicidade amiloide inicia uma resposta inflamatória bloqueada por canabinoides.
        http://www.nature.com/articles/npjamd201612–

Referências:

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